🌸 CAPÍTULO 2: O relógio parado da Alma

“A natureza não se apressa, contudo, tudo se realiza.” – Lao Tzu

👨🏻‍💻 Escritório de Minho, Seul – 1 semana antes do Festival.

Minho estava sozinho em seu escritório, o ambiente silencioso contrastava com a turbulência de sua mente e o murmúrio do trânsito lá́ fora. Vestido com um terno cinza escuro que, apesar de impecável, parecia pesar sobre seus ombros, ele permanecia parado.

Imagem representativa do personagem-Via Pinterest.

No pulso, o relógio refletia a sensação de tempo suspenso desde o fatídico dia em que tudo mudou. Em seus pensamentos, o passado se misturava com o presente. Cada batida do relógio, embora percebido de maneira inconstante, parecia marcar o momento exato em que sua vida parou.

―  Soojin…desde aquele dia, o tempo se tornou um eco distante. Como posso seguir, quando cada instante me traz a lembrança da dor e do vazio? Onde está Deus quando tudo desaba assim?

A pressão dos negócios da família e as exigências da Sra. Lee haviam aprisionado Minho em uma rotina impiedosa, impedindo-o de processar o luto pela irmã̃. A dor, sempre latente, sussurrava que ele não era forte o suficiente para carregar o legado que lhe fora imposto

Enquanto Minho tentava se recompor, o walkie-talkie estalou:

― Minho, precisamos que você esteja preparado para a reunião do festival em meia hora. Não podemos esperar.

Minho responde em tom baixo e contido: ― Sim, Sra. Lee…

Sua voz trazia um cansaço que não encontrava remédio, um cansaço que vinha dos dias intermináveis sem a presença reconfortante de sua irmã.

Com o olhar perdido no relógio parado, ele murmurou para si mesmo:

―  Será que Deus silenciosamente se afastou junto com ela quando tudo aconteceu?

🥀 Flashback – A Tragédia:

Em uma manhã cinzenta, quando a chuva caia com força sobre as ruas de Seul, Minho – que estava prestes a completar 29 anos - recordava o dia em que uma tragédia coletiva abalou a todos. Um ônibus, que transportava um grupo de trabalhadores e alguns familiares, colidiu violentamente com um obstáculo inesperado.

A voz de sua irmã ecoava como uma promessa interrompida. Minho via nela o sonho de um futuro que jamais se realizaria. Entre os gritos e a confusão, o caos daquele dia ficou marcado para sempre em seu coração – uma ferida que se recusava a cicatrizar.

Sozinho, Minho forçou a respiração, tentando expulsar a dor que insistia em emergir a cada segundo. Começou a sussurrar em voz baixa, quase como uma prece: ― “Soojin, se você̂ ainda está́ aí… por que não consigo encontrar um sinal de que Deus me escuta? Será́ que Sua voz se perdeu nesse silêncio de dor?”

Por um breve instante, um aroma de incenso queimado no canto preencheu o ambiente, trazendo consigo um sentimento de esperança e de memórias distantes. Mesmo que a fé lhe escapasse, a lembrança do sorriso de sua irmã – e aquele sonho inacabado – ainda insistia em lhe dizer que, por mais que a dor o fizesse duvidar, algo divino ainda lutava para florescer em meio ao desespero.

Ele sentia que o tempo, ao menos em seu coração, aguardava um milagre – a coragem para aceitar o luto, para ouvir a voz de Deus e para transformar aquela dor paralisante em um novo começo. Naquele silêncio pesado, Minho encarava sua própria fragilidade.

Mesmo cercado pelos compromissos nos negócios e pela expectativa implacável de sua família, restava-lhe a esperança – tênue, mas real – de que um dia, ao ouvir o sussurro de uma fé renovada, ele poderia, enfim, sentir a presença de Deus e permitir que o tempo voltasse a bater.

Minho fecha os olhos, puxa o ar enquanto suas mãos sobem em direção ao rosto acompanham o aumento do seu pulmão, ele pensou: ― “Talvez seja hora de deixar o passado me ensinar a valorizar o presente”.

Seus pensando são interrompidos por passos apressados, que ele poderia reconhecer em qualquer lugar, e antes que pudesse ter qualquer reação, uma voz alta e firme se destacou em meio ao silêncio.

― Sr. MinHo!

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História escrita por Lilian Bastos. Todos os direitos reservados. A reprodução total ou parcial sem autorização é proibida e o plágio é crime. 🚫📚